Dá pra sair da crise da democracia, mas vai dar trabalho

Por Pedro Telles
Parece que sobrou mesmo para a nossa geração a tarefa de enfrentar uma nova onda global de autoritarismo.
A volta do Trump consolida a força dessa onda, tanto de baixo para cima (forte apoio popular a ideias extremistas), quanto de cima para baixo (atores de grande peso político e econômico apostando pra valer em líderes autoritários).
A soma e a interconexão disso com a crise climática, e com o vigilantismo proporcionado por um oligopólio de plataformas digitais, torna a situação ainda mais difícil.
Não à toa, grandes empresários do petróleo, do agro e das big techs são os principais financiadores de figuras como Trump e Bolsonaro, e os lobistas das suas empresas se alinham à extrema-direita mundo afora para impedir regulações – uma mão lava a outra.
Tá difícil e vai piorar. Mas gerações anteriores já passaram por isso, e superaram.
Não será suficiente responsabilizar “a esquerda” como entidade abstrata, ou esperar soluções vindo de outras pessoas.
Assim como ao enfrentar um engarrafamento é sempre bom lembrar que você não está no trânsito, mas sim você é o trânsito, só ajudará a resolver a situação quem ativamente se propuser a fazer algo: a se organizar com quem está ao lado, a dedicar sua energia para projetos de resistência e construção mais profundos e perenes, a coordenar esforços com outras pessoas e grupos que estejam fazendo a disputa paralelamente de baixo para cima e de cima para baixo.
Ninguém vai resolver nada sozinho, e também por isso ninguém precisa abraçar o mundo.
Junte-se a quem está perto de você ou a organizações, grupos e partidos que te inspiram, e trabalhe junto dessas pessoas nas partes do problema que estejam ao seu alcance. Cuidemos de nós mesmos e uns dos outros, buscando dar juntos passos grandes mas não maiores do que as nossas pernas, porque a maratona é longa.
Dá pra sair dessa, mas vai dar trabalho.
Reconhecer o tamanho do problema, e encarar de frente de forma organizada, é o que podemos fazer.
As eleições de 2026 estão ali na esquina, e a hora de começar a agir de olho nelas (e além) é agora.